ONGs de animais sofrem com impactos devido a pandemia
11/23/2020Falta de doações tem impactado o terceiro setor, que já lidava com crises mesmo antes do coronavírus
A crise do COVID-19 tem impactado as mais diversas pessoas, desde as donas de animais, até as ONGs que os doam. Agora, as organizações têm sofrido ainda mais com a falta de recursos e o aumento de resgates de bichos, que foram (e estão) abandonados por seus, até então, tutores, que acham que a melhor solução em uma crise, é se livrar dos bichinhos.
Estar de mudança e não ter condições para custear o pet de estimação, foram os principais motivos que as ONGs têm recebido quando são contactadas por pessoas que desejam doar seus animais.
“Algumas pessoas que adotaram gatos há 2, 3 anos, devolveram os animais porque ficaram desempregadas e tiveram de voltar para suas cidades de origem, indo morar com parentes. Tem acontecido muito isso’’, relata a presidente da Catland (ONG que resgata e doa gatos), Perla Poltronieri.
Porém, há também quem se interesse em adotar um bichinho nesse tempo livre, conta a voluntária da ONG Amigos de São Francisco Stéphanie Schürmann: “Tivemos recorde de adoção em um único mês (maio), nunca atingido antes. Normalmente doamos em média 40 animais por mês, em maio foram 71”.
Alguns casos de adoções que ocorreram no início da quarentena foram emocionais. É o que Perla percebeu: “as pessoas voltam à vida normal e não querem um pet para atrapalhar as viagens”.
Mesmo que as ONGs sempre tenham lidado com dificuldades por falta de recursos, algumas diminuíram os gastos em detrimento do número de adoções ter aumentado. É o caso da ONG Adote um Gatinho. Segundo a presidente da entidade, Susan Yamamoto,
‘’Diminuímos a quantidade de animais no abrigo de 500 para 300, e então, o custo com menos animais reduziu também’’.
Na Catland, o número de adoções de gatos aumentou 70% no início da pandemia, porém, a quantidade não é mais a mesma após o término da fase mais rígida da quarentena. Ainda que o número de adoções tivesse aumentado, os gastos não diminuíram, e sim, aumentaram devido ao abandono de animais.
“Os meses de julho e agosto foram os piores para nós, e continuam sendo bem piores. Não sabemos como estamos sobrevivendo, é contando moedinhas, contando com a solidariedade das pessoas e vivendo um dia por vez’’, desabafa Perla.
Há também dificuldade em arrecadar recursos, já que muitas pessoas, por conta da crise, não fizeram mais doações. As presidentes das ONGs Adote um Gatinho e da Catland relatam que algumas pessoas decidiram dobrar os valores de doação, em uma tentativa de ajudar mais. “Nesse momento, quem pode está até doando mais, mas isso não supre tudo aquilo que parou’’, conta Perla Poltronieri.
Adaptação
O distanciamento social mudou a rotina das ONGs de animais. Conhecer os bichos para adoção agora é através de vídeo chamada. Após estar tudo combinado, o adotante marca um horário para ir à ONG, ou a ONG levar o animalzinho para o adotante. Tudo feito com muito cuidado e higiene. Eventos também estão sendo feitos de forma virtual. Na Catland, a presidente conta que mesmo se adaptando, o resultado não é o mesmo que no presencial, em que arrecadavam 60% dos recursos da ONG.
Os trabalhos voluntários também se adaptaram. Agora, só vão para a sede das ONGs os voluntários que realizam atividades presenciais extremamente necessárias. Além disso, algumas pessoas que voluntariavam e eram de grupo de risco, ou trabalhavam com muito contato humano, decidiram se afastar das atividades. “Alguns pararam de ajudar com caronas e entregas por receio de se contaminar’’, explica Susan.
*Matéria produzida em setembro de 2020
Reportagem: Amanda Fernandes e Ana Caroline Abreu
Texto: Amanda Fernandes
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